segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Pilotos de Campos fizeram trajeto de descida diferente do previsto, diz FAB


26/01/2015 17h45 - Atualizado em 26/01/2015 21h36

Pilotos de Campos fizeram trajeto de descida diferente do previsto, diz FAB

Para Aeronáutica, ainda não é possível indicar causa da queda de avião.
Agência de Aviação Civil diz que pilotos tinham licença e habilitação válidas.

 

A coleta dos dados sobre o acidente aéreo que matou o ex-candidato à Presidência da República Eduardo Campos em agosto do ano passado mostrou que os pilotos realizaram um trajeto diferente do oficialmente previsto para realizar o pouso, informaram durante apresentação realizada nesta segunda-feira (26), em Brasília, oficiais do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
AS AFIRMAÇÕES DO CENIPA SOBRE O ACIDENTE
Os pilotos fizeram um trajeto diferente do previsto na carta de recomendação
Ainda não é possível dizer que houve falha humana.
Até o momento, não foi identificada falha técnica da aeronave
Estão descartadas colisões com aves, veículos não      tripulados (Vants) ou outros objetos no ar.
Não houve incêndio na aeronave antes da queda
O avião não caiu de cabeça para baixo.
A velocidade do avião no momento do pouso era superior à recomendada.
O avião estava com uma inclinação de 38 graus negativos no momento da queda
O trem de pouso estava recolhido na primeira tentativa de pouso antes da queda
O áudio encontrado nas investigações não é o do dia do acidente..

Fonte: Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa)
Tanto na descida inicial para a pista da Base Aérea de Santos, quanto na arremetida (quando o avião sobe de volta no momento em que não consegue aterrissar na primeira vez), os radares captaram um percurso diferente do recomendado no mapa. Durante esse trajeto, a tripulação também não informou precisamente os locais por onde passava nos momentos em que isso é exigido.
Segundo o tenente-coronel Raul de Souza, o piloto fez trajeto "diferente" do previsto na carta. "A gente não pode concluir que ele tenha feito um atalho. Ele fez um procedimento diferente do que estava previsto", afirmou (veja na imagem acima).
A comparação entre o trajeto recomendado e o efetivamente realizado pela aeronave mostra que os pilotos “encurtaram” o pouso. Em vez de fazer um caminho dando uma volta no formato de um 8, eles tomaram uma rota manobrando à direita para descer o jato.
“O comum é seguir [a rota]. Está previsto em regulamento”, declarou  o chefe da Cenipa, Dilton José Schuck.
Os responsáveis pela análise, porém, disseram que ainda não é possível concluir se esse fator contribuiu para o acidente nem se houve erro dos pilotos.
Essa avaliação ainda será feita pelos técnicos da Cenipa, que não têm como atribuição apontar causas do acidente, mas fazer recomendações para evitar novas ocorrências e situações de risco.
No último dia 16, o jornal "O Estado de S. Paulo" afirmou que o acidente teria sido motivado por uma sequência de erros do piloto. "A gente não pode afirmar que houve falha humana ainda", afirmou o tenente-coronel Raul de Souza.

Imagem mostra o trajeto feito pelo piloto antes da queda (linha vermelha) e a trajetória recomendada (linha preta) (Foto: Reprodução/Cenipa)



 
"Ainda estamos entrando nessa fase de análise para chegarmos às conclusões. Nós ainda vamos interpretar esses dados para a gente chegar ao momento em que a gente diga: 'sim, isso contribuiu" ou 'não, isso não contribuiu'", afirmou o chefe do Cenipa, brigadeiro-do-ar Dilton José Shuck.
Habilitação
De acordo com os documentos da tripulação, tanto o piloto, Marcos Martins, quanto o copiloto, Geraldo Magela Barbosa, tinham habilitação para voar em modelos anteriores (Cessna C560 Encore ou C560 Encore+), e não no modelo utilizado (um Cessna C560XLS+), mais moderno.



 Paineis do modelo para o qual os pilotos tinham habilitação (esq.) e do modelo que conduziam (dir.) (Foto: Reprodução / Cenipa)
Para chegar à habilitação do modelo utilizado, o piloto deveria passar por um novo treinamento e o copiloto, por um curso completo sobre a nova aeronave. A distinção entre as habilitações para as diferentes aeronaves, no entanto, foi definida pela Anac pouco mais de um mês antes do acidente, no dia 3 de julho.
Questionado se isso desqualificava os pilotos para operar o avião, o major Carlos Henrique Baldin disse que não.
“Para nós do Cenipa, o mais importante é saber se estavam em condições de treinamento e qualificação compatíveis com aquele equipamento e com as condições de meteorologia. A questão de estar habilitado formalmente ou não não é tão importante assim, é questão mais administrativa. Tem que perguntar à Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] para saber, por que [a norma sobre habilitações] estava em transição. Habilitação é questão administrativa que a Anac tem que ver”, respondeu.
Anac
Em nota divulgada à imprensa após a apresentação da Cenipa, a Anac informou que piloto e copiloto tinham habitação válida para “operar todas as aeronaves desta família para as quais eles estivessem treinados”, o que inclui os três modelos do Cessna.
Segundo a assessoria de imprensa do órgão, somente no momento da renovação da habilitação, eles teriam que comprovar ter realizado um treinamento adicional para poderem continuar voando no modelo XLS+.
“O piloto e o copiloto estavam aptos e em situação regular para voar”, informou ao G1 a assessoria da Anac. Os registros do órgão mostram que, antes do acidente, o piloto Marcos Martins já havia realizado mais de 90 voos no modelo que caiu. A Anac ainda esclareceu que a norma que detalhou os tipos de habilitação para os modelos do Cessna foi feita para tornar o processo “ainda mais específico e completo”.
Condições técnicas
Durante a apresentação, o coordenador da investigação, tenente-coronel Raul de Souza, disse que as condições do avião e do clima eram suficientes para realizar um pouso seguro.
“Os motores funcionavam perfeitamente na hora do impacto e com potência”, afirmou. Além disso, não houve colisão com Vants (veículos aéreos não tripulados) nem com pássaros.
“Até agora a coleta de dados não identificou nenhuma falha técnica da aeronave. Com relação a falha humana, a gente não pode afirmar que houve falha humana ainda. Isso é a próxima fase da análise”, declarou o major Carlos Henrique Baldin, que também participa da investigação.


 

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